FAROL
Ongoing personal project about Farol island, and the relationship of the local houses with the natural space around them.
“Para quem cresceu em Faro, as ilhas-barreira estão sempre na linha do horizonte. Ali, a terra e o mar confundem-se num ritmo que o calor agita e o frio relaxa. E foi precisamente no inverno que o jovem fotógrafo farense se dedicou a documentar os espaços que ficam, quando as pessoas se vão. Cada casa é um rosto. As janelas os olhos que fitam o mar, a porta a boca que se abre de espanto quando os donos regressam no verão. E esta relação quase humana não vem apenas da antropomorfia das formas, mas da sua própria génese: é que quase sempre estas casas foram construídas pelas mãos de quem as habita naqueles meses de estio. Aqui vemos não apenas a harmonia entre o natural e o edificado, como também algumas cicatrizes deixadas pela presença humana, sob a forma de detritos, objectos abandonados ou a degradação de estruturas mal cuidadas. Mas na Ilha do Farol é a natureza que tem a última palavra. As árvores e arbustos abraçam as casas, entram pelos quintais, espraiam-se até ao mar. E na época baixa, quando se deixam de ouvir os chilreios das crianças, as gargalhadas dos convivas e os pregões dos vendedores de praia, o mar faz-se ouvir em todo o seu esplendor. As ondas rugem e até o crepitar da espuma é audível no seu leve sussurrar. Embora não vivam lá o ano inteiro, as gentes do Farol – os “ilhéus”, como gostam de ser chamados – amam a língua de areia onde fizeram casa e ostentam com orgulho essa presença. Numa altura em que o plano de ordenamento determinou o derrube de várias casas, esse entono transformou-se em luta.
A realidade documentada é ainda um grito de alerta para as alterações climáticas. Num equilíbrio frágil entre o homem e o mar, a subida do nível dos oceanos pode pôr em causa esta coexistência atávica. Através da fotografia, este projeto cristaliza e preserva para as gerações futuras aquilo que hoje é a Ilha do Farol, em toda a sua e beleza e fragilidade.”Eurico Duarte
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